Ameaça de Trump de anexar o Canadá é 'real', afirma Trudeau

Presidente americano costuma se referir ao vizinho como o '51º estado' e 'rebaixou' Trudeau chamando-o de 'governador' em vez de primeiro-ministro

O primeiro-ministro Justin Trudeau disse em uma cúpula econômica nesta sexta-feira que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, leva a sério a anexação do Canadá para obter acesso aos seus recursos naturais e reiterou que a soberania de seu país não é negociável. Trudeau convocou uma cúpula de líderes empresariais e trabalhistas para coordenar uma resposta à ameaça iminente de Trump de uma tarifa de 25% sobre todas as importações do Canadá, uma penalidade que pode prejudicar a economia do país.

Em comentários a portas fechadas, Trudeau disse a um grupo de executivos que, para Trump, a possibilidade de "absorver o Canadá" é "real", de acordo com relatos da mídia canadense.

"Sugiro que o governo Trump não apenas saiba quantos minerais essenciais temos, mas pode ser por isso que eles continuam falando sobre nos absorver e nos tornar o 51º estado" dos Estados Unidos, disse ele.

Os comentários, feitos depois que a mídia deixou a sala, foram ouvidos em um alto-falante do lado de fora da sala e captados pelo Toronto Star e pela emissora pública CBC.

"Eles estão muito cientes dos nossos recursos, do que temos, e querem poder se beneficiar deles", acrescentou. "Trump tem em mente que uma das maneiras mais fáceis de fazer isso é absorvendo nosso país", acrescentou.

Questionado sobre os comentários de Trudeau à margem da cúpula e se Ottawa estava preocupada com a ameaça de Trump, o ministro da Indústria, François-Philippe Champagne, disse à AFP que "ninguém pode questionar a soberania do Canadá".

"Nossos amigos americanos entendem que precisam do Canadá para sua segurança econômica, precisam do Canadá para sua segurança energética e precisam do Canadá para sua segurança nacional", disse ele.

A Ministra do Comércio, Anita Anand, disse que o Canadá está determinado a resistir a qualquer expansionismo dos EUA. Trump costuma se referir ao Canadá como o "51º estado" e rebaixou Trudeau chamando-o de "governador" em vez de primeiro-ministro.

As tarifas anunciadas por ele entrariam em vigor na terça-feira, mas o presidente dos EUA concedeu ao Canadá um adiamento de 30 dias para continuar as negociações. Ele disse que as tarifas são necessárias para forçar o Canadá a agir sobre o fluxo da droga fentanil e de migrantes — nenhum dos quais é realmente um grande problema na fronteira — mas ele também reclamou dos déficits comerciais.

Em seus comentários, Trudeau disse que Ottawa continuaria trabalhando para abordar as preocupações de Trump sobre o fentanil e os migrantes, embora o Canadá não seja um contribuinte significativo para nenhum desses problemas nos Estados Unidos. Ele também enfatizou que o Canadá deve estar preparado para "o que pode ser uma situação política de longo prazo mais desafiadora com os Estados Unidos".